Ou The times they are a' changing
O antecipado mundo globalizado do
futuro, através de mercados e conexões virtuais já chegou a
nós de maneira tão orgânica que mal o vimos se estabelecendo. Não é exagero dizer - ou mesmo novidade
- que nos últimos 50 anos a espécie humana revolucionou como nunca
antes sua forma de produzir e reproduzir conhecimento, num
vórtice violento de interatividade ininterrupta. Um mundo sem
fio que jamais fica offline.
Para mim, que cresci admirado com as
tecnologias que via surgindo a velocidades cada vez mais estonteantes, é desconcertante ver que as gerações posteriores
a minha encarem tudo isso com tanta naturalidade. Coisas do Zeitgeist, por
certo. Esse assombro, no entanto, compartilharei
noutras oportunidades. O papo hoje é sobre a guerra dos meninos,
mais especificamente, dos meninos de São Paulo.
Do começo: Os bandeirantes paulistanos, representados pelo
Sr. Geraldo Alcakmin, decidiram cortar gastos. Até aí tudo
bem, afinal, a austeridade é hoje pedra
de toque da administração pública e privada, num Brasil sacudido por crises
institucional e política como num mundo ainda se recuperando da última crise
econômica (aquela d@s bolhas). O problema é como ele resolveu fazer
o corte. Uma atrapalhada reforma escolar, onde seriam fechadas quase cem escolas, salas seriam mescladas (resultando em superlotação e consequente
queda de aproveitamento) e o fim da linha para muitos alunos.
Ou o que esperar de um aluno de EJA ou outro de período
noturno que, trabalhando durante o dia, se vê
de uma hora para outra, transferido para locais distante do
emprego, inviabilizando a já sacrificada jornada a qual a maioria de
nós se vê obrigado a trilhar em busca de formação profissional?
Deixai vir a mim
Vendo seus futuros ameaçados por um governo que sequer se dignou a convocar
discussões (a exemplo do que aconteceu mais cedo esse ano nas terras
de Beto Richa, onde faltou boa educação e sobrou até pros jornalistas, atacados
por cães raivosos e pitbulls), o que fazer?
Clique na imagem para relembrar
Os jovens não pensaram duas vezes e ocuparam o espaço que é
seu por direito. A adesão foi aumentando, aumentando e o número passou
das 220 escolas! A opinião pública, em parte ajudada pela "grande"
mídia, se dividiu. Aulas paralisadas, faltando tão pouco para o fim
do ano letivo? Tanto barulho por mera realocação de vagas?
Ora, Fulaninho e Sicraninho já não iriam mais para a mesma escola,
mas e daí? Quem estaria por trás dessa baderna? como pode -se protestar
em pleno dia útil? Quem vai encher o pixuleco? O que se passa na
cabeça desses moleques?
Vandalismo! Invasão!
Como pincelamos anteriormente no texto, a coisa vai pra bem
além do incômodo de estudar longe de casa, ou de
"ter de fazer
novos amiguinhos". Os pais logo foram
descobrindo - só posso
crer que com enorme orgulho - o quão politizados e
mobilizados
estavam seus filhos. Surpreenderam até dinossauros de movimentos
sociais, como Laerte. Palavras dela:
“Estou abismada. Acho que nunca teríamos feito uma coisa desse teor", afirmou em referência à sua geração. “Não sei o que vai mudar. O que eu gostaria muito que ocorresse era uma resposta de abertura para negociações. Uma compreensão do governo de que não é possível fazer esse movimento sem ouvir a sociedade.”
A fala se deu antes da decisão de Alckmin em voltar atrás e
anunciar a suspensão¹ das medidas no fim de semana. Pelo sim,
pelo não, os alunos resolveram que vão continuar ocupando as
escolas, até que o tucano revogue em definitivo² o decreto da
reorganização.
Fica de tudo isso a esperança de que talvez o "gigante" tenha
de fato acordado, vivendo através desse organismo complexo
que são as redes sociais - sejam elas virtuais ou não - grassando
no que temos de melhor: material humano. A vitória não poderia
vir em melhor momento. Estamos todos, afinal, com muita
de justiça e democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário